sábado, 29 de setembro de 2007

Sonho da Boemia - Dama Negra

Vamos, meu anjo, fugindo,
A todos sempre sorrindo,
Bem longe nos ocultar...
Como boêmios errantes,
Alegres e delirantes
Por tôda a parte vagar.

Há tanto canto na terra
Que uma vida inteira encerra!...
E que vida!...Um céu de amor!
Seremos dois passarinhos,
Faremos os nossos ninhos
Lá onde ninguém mais for.

Uma casinha bonita,
Lá na mata que se agita
Do vento ao mole soprar,
Com folhas secas da selva
Com o lençol verde da relva
Oh! Quanto havemos de amar!...

De manhã, inda bem cedo,
Hás de acordar, anjo ledo,
Junto do meu coração...
Ao canto alegre das aves
As nossas conções suaves,
Quais preces se ajuntarão.

Passearemos à sesta...
Sonharemos na floresta,
Sempre felizes, meu Deus!...
Nalguma Lânguida esteira,
Quanta cantiga faceira
Ouvirei dos lábios teus!...

E à noite, no mesmo leito
Reclinada no meu peito,
Hei de ouvir os cantos teus.
A cada estrofe bonita
No teu seio, que palpita,
Terás cem beijos, por Deus!

Farei posesias ou versos
Aos teus olhinhos perversos
Aos teus pézinhos, meu bem!
Tu cantarás, ó Manola,
Aquela moda espanhola
Que tanto requebros tem!

Depois, que lindas viagens!...
Veremos novas paisagens,
No sul, no norte, aonde for...
Voando sempre, querida,
Co'a primavera da vida,
Co'a primavera do amor.

Vamos, meu anjo, fugindo,
A todos sempre sorrindo
Bem longe nos acultar.
Como boêmios errantes
Que repetem delirantes:
"P'ra ser feliz basta amar"!

Castro Alves

Nenhum comentário: